CARTA ABERTA CONTRA O RETORNO DAS AULAS PRESENCIAIS

Os Trabalhadores em Educação Pública Municipal, através de sua entidade sindical, refutam com veemência o cronograma de retorno das atividades presenciais nas escolas de Educação básica, proposto pelo governador do Estado do RS para consideração dos prefeitos.

O posicionamento do governador demonstra claramente sua subordinação a determinados setores econômicos e seu absoluto desprezo com a vida humana. Só essa premissa é capaz de explicar um cronograma descolado de protocolos de segurança sanitária e de análise minuciosa do avanço da COVID-19 em nosso estado. A definição da prioridade de retorno dada à Educação Infantil é outra demonstração clara de que a vida está sendo preterida em favorecimento dos interesses econômicos.

Consideramos desrespeitoso e irresponsável assumir a retomada das atividades presenciais nas escolas frente a evidente expansão da COVID-19 em nosso Estado. O isolamento social é um dos principais elementos de contenção da pandemia e colocar mais de 30 mil alunos em circulação por certo resultará em uma incalculável elevação de mortes.

Entendemos que o atendimento presencial só poderá ser retomado se garantida a segurança sanitária para toda a comunidade escolar e para tal é imprescindível que:

– A curva de contágio encontre-se em níveis bem menos expressivos do que os hoje verificados;
– o sistema de saúde, hoje à beira do colapso, tenha capacidade de garantir pleno atendimento aos possíveis contaminados;
– a testagem massiva seja garantida a toda a população, principalmente, aos profissionais da educação e a todos alunos antes do retorno às aulas;
– os espaços escolares sejam readequados com o objetivo de garantir o distanciamento social;
– estabeleça-se um processo de substituição imediata de todo e qualquer profissional da educação que necessite afastamento decorrente de sua condição de saúde;
– o plano de retomada tenha os profissionais da educação como protagonistas, visto que serão eles que o colocarão em prática.

Acreditar que as crianças não compartilharão o lanche, que não se aproximarão, não se tocarão, que manterão as máscaras corretamente posicionadas por 4 horas, que manterão higiene rigorosa sem a supervisão constante de um adulto é compor uma obra de ficção. Nessa ficção, os educadores conseguirão manter o distanciamento se uma criança se machucar? Os agentes de apoio farão o acompanhamento à distância, sem tocar no aluno? As aulas serão sistematicamente interrompidas para a higienização do espaço? Como Trabalhadores em Educação conhecemos a escola real e os riscos que a retomada precoce traz a toda comunidade.

As atividades remotas, criteriosamente planejadas pelos educadores, estão longe do nosso ideal pedagógico, pois temos a firme convicção de que nada substitui a interação direta entre professores e alunos nas salas de aula. O atendimento não presencial, ora oferecido, gera inúmeros desafios e imensa sobrecarga aos professores, mas entendemos que hoje ele é sinônimo de amor ao próximo, é a ação possível dentro do compromisso maior que é a preservação da vida.

Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública Municipal de Gravataí – SPMG